Capítulo vinte oito - Sim, vikings tomavam refrigerante



Depois da minha última declaração, você deve estar imaginando: Oliver saiu correndo, decidido a acabar com esse dragão maligno de uma vez por todas. Sim, eu fiz isso. Mas depois de alguns minutos eu cansei, o vulcão era mais longe do que parecia.

Parei sob a sombra de uma grande árvore. Na verdade, parecia um amontoado de árvores, com todos os seus troncos emaranhados formando um só. Era uma figueira, a maior figueira do Hawaii. Como eu sabia? Tinha uma pequena placa com uma explicação (longa e chata), sobre a história daquela árvore. Talvez o lugar fosse algum ponto turístico, mas estava deserto. Pelo jeito ninguém estava interessado em ver uma árvore grande e velha.

Eu ainda estava apreensivo com tudo que aconteceu nos últimos minutos. A lembrança do General Dáblio, me dava arrepios. Alguma coisa nesse cara era familiar, mas ao mesmo tempo causava angústia e medo.

Você irá por vontade própria. É assim que deve ser. Essas palavras permaneceram gravadas em minha mente. Eu não sabia o que ele estava querendo dizer com isso, mas não conseguia pensar em nada de bom.

Não acreditava que Rendar estivesse planejando uma festa de boas-vindas para mim. Era difícil de imaginar o senhor dragão maligno, usando um chapeuzinho de festa e soprando uma daquelas cornetas coloridas. É claro, eu gostaria de ser recepcionado com um: seja bem-vindo, Oliver! Não quero mais destruir o mundo, vamos comer bolo! Mas estava mais para: seja bem-vindo, Oliver! Agora morra!

O vento agradável do mar tocava suavemente o meu rosto. Deitei-me sob a grama verde e macia, pude ver o céu entre as folhas da maior figueira do Hawaii.

Lembrei-me das viagens de férias com minha mãe. Sempre, depois do almoço, deitávamos em baixo das árvores e ficávamos observando as folhas caindo. A lembrança doeu um pouco, porque eu gostaria de saber como ela estava. Queria acreditar que tudo estava bem, mas era difícil manter a mente sã depois de tudo que aconteceu nos últimos dias.

Eu estava mergulhando a fundo em minhas memórias, tanto as de longo prazo, quanto as mais recentes. Até uma voz rouca, me despertar dos meus devaneios:

— Tudo bem com você, garoto?

Olhei levemente para o lado e quase tive um infarto. Meus movimentos foram involuntários (provavelmente providos por minhas habilidades de caçador de dragões). Levantei com um salto, erguendo uma das mãos ao céu e invocando a Espada do Oeste.

— AaaAaaaaAahh! — gritou a criatura tentando afastar a espada de seu pescoço.

Era um pequeno monstrinho, de olhos grandes e orelhas pontudas. Deveria ter pouco mais de um metro de altura. Seu nariz era achatado, lembrando uma batata esmagada. Estava usando apenas uma camisa havaiana de tamanho normal, mas que lhe cobria até os joelhos. Se ele usava alguma bermuda por baixo? Prefiro imaginar que sim.

— Você é um goblin?! — questionei mantendo minha espada na garganta da criatura. Se fosse um desses monstrinhos irritantes, eu não o deixaria chamar o resto dos sete anões, como da outra vez.

— Um goblin?! Assim você me ofende, garoto! — exclamou ele com indignação.

— Então quem é você? Ou melhor, o que é você?

Ele tentou recuar, mas o acompanhei com a lâmina da espada.

— Ora! Eu sou: Steve, o Elfo Comerciante — respondeu ele estufando o peito.

Pronto. Agora meu dia está completo.

— Um elfo? Um elfo que se chama, Steve? — suspirei. — É claro, porque não. — Ele me encarava com seus olhos perturbadores, como se estivesse tentando ler meus pensamentos. — Você é um dos capangas, de Rendar? — perguntei estreitando os olhos.

O monstrinho soltou um gemido agudo ao ouvir o nome do dragão. De alguma forma, escapou da minha espada e escalou a grande figueira, com apenas um salto.

— Mas o que foi isso?!

— Vá embora! Não quero nenhum tipo de associação com essa coisa que você falou! — gritou, Steve de cima da árvore, completamente apavorado.

Um monstro com medo de outro monstro? Interessante.

— Aconteceu alguma coisa entre, Rend…

Shhhhh! Não fale esse nome! — implorou o elfo.

— Tudo bem, me desculpe — disse eu revirando os olhos. — Aconteceu alguma coisa entre você e esse dragão específico que não posso falar o nome?

O elfo desceu da árvore lentamente, sentou-se a sombra e respirou fundo.

— Graças aos deuses, eu nem o conheço. E prefiro que isso continue assim — explicou o pequeno.

— Ãhn… mas eu pensei que todos os monstros fossem leais a Ren… — o elfo me olhou atravessado — desculpe, quis dizer, ao dragão.

— O que você tem na cabeça, garoto? Por acaso todos os humanos foram leais a Adolf Hitler? Eu sou apenas um comerciante, não me envolvo com essas coisas perigosas.

Realmente as palavras do pequeno elfo faziam sentido. Era errado supor que todo ser sobrenatural, deveria ser mau por natureza. Alguns humanos são ruins, mas nem todos somos iguais. Pelo jeito, as criaturas mágicas seguiam o mesmo padrão.

— Então, Steve. O que você vende?

Ao ouvir a palavra vende, o elfo saltou e mudou de expressão na mesma hora.

— Ora! Enfim um cliente! — exclamou ele, esfregando as mãos, o que não me passou muita confiança.

— Eu sou o maior elfo comerciante de artigos colecionáveis, de todo o mundo! — disse ele com orgulho. — O que você procura?

— Hum… na verdade, não estou procurando nada.

— Você está brincando? Todo mundo procura alguma coisa — afirmou ele com os pequenos braços na cintura. — Talvez aquela figurinha que faltou para completar o seu álbum. Ou alguma revista em quadrinhos antiga que você não encontra em lugar nenhum. Actions figures, tenho de todos os tipos. Quem sabe um filme… possuo ótimos filmes para negociar.

Eram muitas coisas, mas nada me interessava nesse exato momento.

— Olhe Steve. Suas coleções parecem ótimas, mas realmente não estou interessado em nada disso agora.

— Talvez algumas revistas adult...

— NÃO! Definitivamente não! — o interrompi. — Eu tenho assuntos mais sérios para resolver — falei empunhando minha espada.

Os olhos do elfo brilharam ao ver a espada brilhar em minhas mãos. Novamente ele deixou escapar um gemido agudo, mas dessa vez não saiu saltando.

— Essa po-or acaso é a Espa-ada do Oe-este? — questionou o elfo. — A verdadeira?!

— Ãah… sim — respondi, imaginando se havia alguma cópia falsa da minha espada por aí.

— Óoh! Perdoe-me pela ignorância! Mas eu não havia notado anteriormente. Às vezes fico desatento quando tentam me matar.

— Err… Desculpe-me por isso — falei.

Steve ignorou-me completamente.

— Eu não acredito que quase fui morto por uma arma sagrada! A Espada do Oeste! Um item extremamente raro! — O elfo estava muito animado, mais do que eu gostaria. — Você por acaso gostaria de trocá-la? Posso lhe oferecer… hum… que tal uma coleção com todos os tipos de latinhas de refrigerante do mundo? Desde a primeira feita há mais de mil anos, pelos vikings, até a última feita há… cinco minutos — terminou o elfo, olhando para o braço como se estivesse vendo as horas.

Eu não sei o que era mais perturbador. Ele querer a minha espada para sua coleção de bugigangas; ou saber que os vikings tomavam refrigerante; ou ele ver as horas no pulso, sem um relógio.

— Steve — falei pausadamente —, a Espada do Oeste não está à venda. Eu vou precisar dela para lutar com… aquele dragão que não devo mencionar.

O pequeno elfo estava ficando ansioso como, aqueles colecionadores fanáticos ficam ao lado de itens raros e únicos.

— Ma-mas… deve ter algo que eu possa lhe oferecer…

— Nada que você tenha, vale a Espada do Oeste, elfo — disparei —, desista.

Pude perceber que, ele levou isso como um desafio. Fechou os olhos como se estivesse tentando lembrar-se de algo muito importante e com grande valor, para barganhar pela minha espada.

— Já sei! — exclamou ele. — Que tal a grande profecia, completa é claro.

Encarei o elfo com uma sobrancelha erguida. Era difícil decifrar suas expressões. Agora ele parecia estar sorrindo, mas também parecia ansioso ou excitado. O que ele estava querendo dizer com: completa é claro.

— Do que você está falando? Eu conheço a toda a profecia! — exclamei. — Quando o mal renascer, um novo guerreiro deve crescer. A luz o seu caminho guiará, e seu futuro ele mesmo fará — recitei os versos da profecia que Maia me apresentou.

O elfo ouvia cada palavra atentamente.
— Há! Essa realmente é a profecia, mas está incompleta — declarou Steve. — No mundo todo, eu sou o único que a tem por inteira. A verdadeira, escrita pelos próprios deuses. Item de colecionador. 


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