Capítulo vinte dois - Participei do pior programa de auditório do mundo



Dário era um homem compulsivo quando o termo era apostas. Eu imagino que em seu tempo, ele era algum tipo de vigarista que enganava as pessoas com jogos fajutos. O homem estava radiante, era visível que aquela situação satisfazia suas necessidades, ele mal podia se conter com tanta excitação.

Eu por outro lado, suava como um porco dentro de uma estufa pegando fogo. Talvez você não tenha percebido, mas raciocínio lógico não é uma das minhas melhores habilidades. Quando me tornei um caçador de dragões, eu adquiri aptidão nata com a espada e reflexos de um guerreiro no campo de batalha. Mas meu cérebro continuou o mesmo ― talvez, Belenus não tivesse uma grande inteligência para me passar. Nessas horas eu ficaria feliz, se meu antepassado caçador fosse alguém como, Albert Einstein.

Mas nesse momento, nada poderia me ajudar. O tempo estava correndo e parecia estar contra mim. Eu tinha a sensação de estar amarrado nos trilhos de um trem, vendo à locomotiva se aproximar em alta velocidade. Meu coração estava acelerado e minha mente trabalhava com ferocidade atrás de uma resposta.

Em vinte segundos eu deveria dar a minha resposta. Se conseguisse resolver o enigma, estaria mais perto do meu objetivo e mais perto de salvar o mundo. No entanto, se respondesse erroneamente... digamos que estar amarrado nos trilhos de um trem seria mais prazeroso.

― Você não tem uma dica? ― questionei na esperança que o alegre homem de vestido deixasse escapar algo.

Após uma longa gargalhada, ele me encarou com um sorriso sádico estampado no rosto e disse:

― É claro... tente, não errar.

Eu continuava pensando na hipótese de resolver esse problema com a minha espada. Mas meu tempo estava acabando, a única opção nessa hora era resolver o enigma e atravessar aquela porta.

― Dez segundos! ― disse Dário apontando para a ampulheta.

Mais uma vez me senti naqueles programas de auditório, onde você precisa responder uma pergunta impossível, para evitar que um balde de tinta caia sobre seu corpo. É claro, que no meu caso poderíamos substituir o balde de tinta, por uma porta amaldiçoada onde minha alma ficaria aprisionada para sempre, mas o sentido é o mesmo. Tenho certeza que os deuses devem estar sentados, comendo pipoca e assistindo cada segundo desse espetáculo.

Na mesma hora em que os últimos grãos de areia caíram na ampulheta, ela desapareceu. O homem de vestido aproximou-se e me encarou profundamente.

― E então, garoto, qual a sua resposta?! ― perguntou ele com um sorriso de satisfação nos lábios.

Provavelmente ele achava que eu não seria capaz de resolver seu enigma. Estava certo que venceria mais uma vez. Todavia, eu não iria me entregar fácil assim, em minha mente desenvolvi uma hipótese, com base em um raciocínio lógico ― que poderia estar completamente errada, mas era tudo que eu tinha.

― Muito bem. ― Respirei fundo, pude sentir novamente o suor escorrendo em minha testa.
― Eu pensei muito e cheguei a uma conclusão.

O homem estreitou os olhos e se aproximou para ouvir melhor.

― Primeiro, a caixa de ouro. Se a foto estivesse nela, teríamos duas mensagens corretas. Tanto a da mesma, que diz que a foto ali está, quanto da caixa de prata, onde diz que a foto não está nessa caixa. Portanto, a foto não está no recipiente de ouro ― expliquei pausadamente.

Essa foi à primeira parte do meu raciocínio. Era algo lógico, mas ainda assim quase queimei meu cérebro pensando nela.

Dário levantou uma sobrancelha enquanto analisava minhas palavras, sua expressão era indecifrável.

― A foto também não pode estar na caixa de bronze, pois teríamos novamente duas mensagens corretas. Mais uma vez o recipiente de prata estaria falando a verdade, a foto não estaria dentro dele. Mas o baú de bronze também não estaria mentindo, quando diz que a foto não está na de ouro ― explanei apontando de caixa em caixa.

Eu estava prestes a concluir minha hipótese, o homem de vestido continuava inerte, sem demonstrar reação alguma.

― Por fim, temos a caixa de prata. Mesmo que a mensagem sobre ela diga que a foto não está dentro dela, eu acredito que está sim. Porque é a única forma de termos apenas uma mensagem verdadeira ― fiz uma pausa para respirar ―, a mensagem do recipiente de ouro está mentindo, quando diz que a foto está dentro da própria. As palavras gravadas na caixa de prata também são falsas, elas dizem que a foto não está dentro dela, mas nesse caso está. Restando apenas o baú de bronze, onde diz que a foto não está na caixa de ouro, e realmente não está.

Dário me fitou sem saber o que dizer, por um momento pensei que ele não havia entendido minhas palavras, então completei dizendo:

― A única maneira de apenas uma das mensagens ser verdadeira é se a foto estiver na caixa de prata, mesmo que a nota sobre ela diga o contrário ― expliquei.

Nesse momento toda a sala tremeluziu, as caixas desapareceram. Dário estava visivelmente decepcionado, talvez ele esperasse menos de mim. O lugar voltou a ficar escuro e tenebroso. Iluminado apenas por antigas tochas com chamas fracas. Por um segundo eu pensei que tivesse errado, e que minha alma seria sugada para dentro das portas da vergonha. Mas nada aconteceu, quando tudo voltou ao normal, o homem havia desaparecido. Lentamente me aproximei da porta que outrora se encontrava bloqueada. Para testar, atravessei um braço, nada aconteceu. De uma só vez pulei para o outro lado, e para minha alegria, nenhum campo de força me jogou para trás.

Eu venci. Passei pelo desafio.

― Que tipo de programa de auditório é esse? Eu esperava fogos de artificio e chuva de confetes quando eu ganhasse ― comentei olhando para cima, talvez Belenus estivesse escutando, gostaria de esfregar a minha vitória na cara desses deuses egoístas.
Mas eu sabia o que me esperava pela frente, não havia tempo para comemorar. O caminho que se seguia era um pequeno túnel, com uma luz brilhante no final. De certa forma, eu estava ansioso para sair daquele lugar ― mesmo que isso significasse embarcar em uma batalha mortal contra um dragão maligno.

No entanto, ao passar pela luz no fim do túnel o meu coração parou e minhas pernas viraram gelatina ― mais uma vez. 

Estava de volta na arena. 

Eu sentia nesse momento uma mistura de frustração e raiva. Era como se tivessem me enganado, me usado e depois descartado.

A barraca de Maia ainda estava lá, sem hesitar corri até ela. Seu corpo estava quase que tomado pela marca do Ettercap e eu estava de volta à estaca zero. Encontrava-me a ponto de ter um acesso de raiva, quando ouvi o som de palmas vindo do exterior da barraca. Apressadamente me levantei e caminhei para fora.

― Meus parabéns, Oliver Turner! Você chegou ao desafio final!

― Você! ― exclamei. 


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