Capítulo dezenove - Lutamos em um formigueiro



Nossa única vantagem dentro do labirinto estava destruída em minha frente. Eu só conseguia pensar em uma coisa: sem o GPS poderíamos nos perder e jamais encontrar a Chama Sagrada, vagar dentro desse lugar obscuro para sempre. Você acha que sou pessimista? Na verdade, estava sendo otimista. Passaríamos a eternidade no labirinto, se sobrevivêssemos ao ataque em massa das formigas gigantes. Será que poderia ficar pior? Prefiro nem pensar nessa hipótese.

Os monstros não paravam de aparecer. Surgiam por todas as aberturas da arena ― que por sinal, eram muitas.

Eu não estava em condições de contar, mas poderia dizer que facilmente ultrapassavam o número de quinhentas formigas. Algumas eram humanoides, possuíam mãos quem empunhavam machados. Outras, no entanto, eram totalmente monstruosas, em vez de mãos normais, exibiam pinças afiadas.

― Mas que droga é essa?! ― perguntei exasperado.

― Não tenho certeza ― respondeu Maia ―, mas... me parecem Ettercaps.

― Etter... o quê? ― questionei enquanto se projetavam em minhas mãos, meu escudo mágico e a Espada do Oeste.

Ettercaps! ― exclamou ela, disparando uma flecha no meio da cabeça de um dos monstros, que subitamente saltou sobre nós, o transformando em uma nuvem negra. ― Já ouvi algumas histórias sobre essas coisas, e nenhuma delas acaba bem.

Estávamos completamente cercados. Meus sentidos estavam apurados, eu olhava ao redor em busca de algo que pudesse nos tirar dessa situação. Porém, não havia para onde correr. As criaturas estavam se agrupando a nossa volta, enquanto recuávamos cada vez mais.

Um deles girou em minha direção, tentando me acertar com seu ferrão. Instintivamente, bloqueei a investida usando meu escudo e com a espada decepei a cauda do monstro.

UUURGHHH! ― urrou a criatura antes de sentir minha espada atravessando-o por completo.

― Tenha cuidado com esse ferrão Oliver, dizem que a marca do, Ettercap é extremamente venenoso ― explicou Maia, preparando outra flecha em seu Arco do Sul ―, apenas um corte... e você estará morto em poucas horas. 

Engoli em seco. Eram tantos monstros... apenas um arranhão e... nem queria pensar.

O cerco se fechava ao nosso redor, as formigas estavam ficando impacientes e agressivas. Uma delas levantou seu machado de pedra e bradou em alta voz, o que me pareceu ser um grito de guerra. Um frio percorreu a minha espinha, quando todas as outras fizeram o mesmo e atacaram.

AAAARGGHHH!

Em meio a gritos e brados, uma avalanche de Ettercaps desabou sobre nós. Se isso tivesse acontecido há alguns dias, eu provavelmente já estaria morto. Mas agora eu sou um caçador de dragões ― sem treinamento algum ―, possuo habilidades naturais para o combate.

Machados e ferrões passavam sobre mim, porém, eu conseguia me defender e esquivar de todos. Na maioria das vezes, defendia com escudo e com a espada atravessava o torso do inimigo.

No meio da confusão Maia escalou a amurada da arena, onde tinha uma visão aérea do campo de batalha. Os monstros que tentavam me pegar desprevenido eram surpreendidos por uma flecha atravessando suas cabeças feias. E os que se aproximavam dela, eram rapidamente perfurados por sua adaga. Por alguns instantes essa estratégia funcionou, reduzimos quase cem formigas a pó. Entretanto, elas continuavam surgindo.

Todo esse esforço estava consumindo minha energia mágica muito rápido. Nunca havia enfrentado um bando de formigas... ou seria enxame... ou talvez um exército... bem, o que importa é que eram mais monstros do que poderíamos dar conta. Meus braços começavam a perder as forças, cada golpe fazia a espada parecer mais pesada. Mas de alguma forma eu ainda estava ileso, sem nenhum arranhão.

― De onde saiu todas essas coisas?! ― exclamei, cortando a cabeça de uma delas que se aproximava pela frente e chutando outra a minha esquerda.

― Isso é um maldito formigueiro! ― gritou Maia em resposta, cortando a garganta de um monstro que segurava sua perna, tentando derruba-la de cima da amurada. ― Esse é o primeiro desafio da Chama Sagrada.

― Droga, Belenus! Formigas?! Não podiam ser poodles? ― reclamei me defendendo de um machado à esquerda e empalando outro monstro à direita.

Poodles? Isso seria crueldade demais ― falou uma voz conhecida, em minha cabeça.

― Mas o que...

Por um instante perdi a concentração. Se não fosse por Maia, uma das criaturas teria atravessado seu ferrão no meu peito. Enquanto eu estava distraído, uma flecha passou sobre minha cabeça, acertando a criatura bem no meio dos seus olhos esbugalhados.

O que seria de você sem essa garota, Oliver? Preste atenção na batalha, não vá morrer agora, garoto ― alertou aquela voz familiar.

― Be-elenus? É vo-ocê?! ― questionei.

É claro que sou eu, quem você esperava? O Batman?

― Mas... onde você está? Estamos precisando de ajuda aqui! Estou perdendo minhas forças ― reclamei desviando de uma pinça que por pouco não me cortou ao meio.

Maia me encarava assustada ― provavelmente porque eu estava conversando sozinho.

No momento estou lutando em uma batalha maior que a sua... em um ótimo jogo de videogame... Err... Aah... Tudo bem, vou lhe emprestar um pouco da energia ― respondeu ele em minha mente.

Uma luz azul brilhou envolvendo todo o meu corpo. A exaustão deu lugar a uma poderosa energia, que fluía ao meu redor. Com as forças renovadas avancei contra os monstros, reduzindo a cinzas qualquer um que atravessasse o meu caminho. Esse era o poder do deus do fogo, ou pelo menos uma parte dele.

 ― Porque você nunca me emprestou essa energia antes, Belenus?! ― gritei, enquanto girava entre um amontoado de monstros, cortando suas cabeças com extrema facilidade.

Você nunca pediu antes ― explicou o deus.

Eu estava a ponto de reclamar, mas decidi guardar as magoas. Ele poderia se ofender e simplesmente pegar de volta sua energia mágica.

Maia continuava a me dar cobertura com seu arco. Ela estava concentrada, mas sua confusão era visível. Não posso culpa-la, há alguns minutos eu estava quase caindo sem energia e agora estou lutando como um urso furioso. Tudo aconteceu dentro da minha mente e somente eu fui abençoado com seu poder.

Enquanto eu limpava o campo de batalha, percebi que um dos monstros caminhava pela parede, se aproximando sorrateiramente de Maia pelas costas.

― CUIDADO! ― gritei. Porém, fora tarde demais.

A criatura acertou Maia com um chute, derrubando a garota de cima da amurada. Na queda, a adaga voou para um lado e o arco para o outro, deixando Maia desarmada e vulnerável. Algumas formigas se aproximaram e saltaram em sua direção. Um nó se formou em minha garganta, entretanto, ela conseguiu desviar das investidas de cada monstro, e quando podia, golpeava de volta. Mesmo desarmada, Maia era mortífera.

Nota mental: nunca irritar essa garota.

No momento em que atravessei o tórax magrelo, da última formiga, a energia de Belenus começou a se esvair. Eu imaginei que quando isso acontecesse, o cansaço voltaria a cair sobre mim. No entanto, eu ainda estava me sentindo agitado, o sangue ainda fervia em minhas veias.

Olhei ao redor e pude ver que, Maia havia recuperado sua adaga e com ela perfurava seu último inimigo também.

Sem pensar, corri até ela. Meu corpo vibrava de excitação, Belenus era um caçador de dragões, esteve em diversos combates. Provavelmente sua energia gostava do cheiro da vitória ― mesmo que ele tivesse o aroma de formiga queimada.

― Foi um primeiro desafio e tanto, não foi? ― falei com um sorriso estampado no rosto.

― Oliver...

― Belenus nos ajudou ― eu estava feliz por termos passado o primeiro teste, e mais ainda por estarmos vivos ―, ele me emprestou parte de seu poder, quando eu estava quase esgotado.

― Oliver, eu...

― E o que foi aquilo sem as armas? Eu não sabia que você lutava daquela forma...

Antes mesmo que eu pudesse concluir a frase, Maia caiu em meus braços, inconsciente.

― O que...

Meu coração congelou ao ver em seu braço esquerdo, um corte profundo e esverdeado.
A marca do Ettercap.


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