Capítulo treze - Ganhamos um GPS mágico




— Assim que você desmaiou na floresta eles apareceram e nos ajudaram — explicou Maia mostrando as pessoas a nossa volta, incluindo Flynt que me observava curioso.
— Por quanto tempo eu fiquei apagado? — perguntei me pondo de pé. Foi então que percebi que havia me recuperado por completo, nada de sono ou fraqueza corporal, e, além disso, minhas roupas não estavam mais cheirando a essência de pinscher morto.
— Vinte quatro horas e trinta e cinco minutos para ser mais exato — respondeu Flynt olhando em seu relógio de pulso.
— O que?! Eu fiquei um dia inteiro dormindo? — minha reação foi de incredulidade, para mim pareceram apenas alguns minutos.
— Você usou muito da sua energia mágica para invocar a espada na luta contra o pinscher. Você ainda não é hábil com magia Oliver, canalizar todo aquele poder para atrair a espada foi demais para você. Essa foi à causa da exaustão e do sono — explicou Flynt.
Acho que era notável a minha expressão. Como na maioria das vezes eu não havia entendido uma só palavra. — O que você quer dizer com energia mágica? — perguntei levantando a sobrancelha.
Ele suspirou. — Você não ensinou nada para ele? — perguntou olhando para Maia.
Ela corou — bem... desde que partimos de Nova York até aqui, não tivemos muito tempo. Na maioria das vezes estávamos sendo atacados por monstros e... — Maia tentava explicar-se.
— Hãa... poderiam me explicar melhor agora — falei olhando de um para o outro.
— É claro Oliver, — disse Maia respirando fundo e olhando com cara feia para Flynt — você se lembra da casa do Sr. Stone?
Eu assenti, era impossível esquecer o barraco/mansão daquele velho insuportável.
— Pois bem, — continuou ela — todos nós descendentes dos deuses, caçadores ou protetores, possuímos uma reserva de energia mágica, que pode ser usada tanto para o combate, quanto para criar coisas. A casa do Sr. Stone, por exemplo, foi criada por alguns dos protetores da barreira do Norte. Toda vez que invocamos nossas armas celestiais, estamos usando da nossa energia mágica. E durante a batalha, seus instintos de guerreiro provêm dessa energia. O que aconteceu na luta contra o pinscher é que você quase esgotou a sua fonte. Fazer a espada voar até a sua mão requer muita habilidade e controle da magia, o que você ainda não tem.
A única coisa que eu conseguia imaginar era um ponteiro como o de combustível no carro, porém mostrando energia mágica. E pensando assim, contra o pinscher eu quase fiquei sem gasolina. — E o que aconteceria se essa energia se esgotasse? — perguntei esperando que ela não dissesse o que eu estava pensando
Ãah... — Maia parecia estar procurando as palavras certas.
— Você morre Oliver — disse Flynt secamente interrompendo Maia, o que a fez olhar para ele novamente com um olhar selvagem e feroz.
Eu engoli em seco. Era exatamente isso que eu não queria ouvir. Muito bom — pensei — além de me preocupar com os monstros que tentam me matar o tempo todo, agora preciso cuidar do nível de magia no meu corpo.
Imediatamente lembrei-me do pesadelo, de como a Espada do Oeste ficou pesada e eu não consegui segurá-la. Da voz do dragão dizendo que eu era fraco e que não poderia derrotá-lo. E ainda dizendo que meu futuro era nas sombras. Não! Eu devo afastar esses pensamentos perturbadores.
— Mas fique tranquilo Oliver — disse Flynt me encarando sério — você é um bom guerreiro, com um pouco de prática aprenderá a controlar sua magia. Tenho certeza que Maia será uma boa professora.
Maia tocou em meu ombro mostrando um sorriso radiante. Ela realmente me passava confiança.
— Entendi — disse eu retribuindo o sorriso. — Mas... me diga Flynt, o que são todas essas telas? — falei apontando para os lados, para as diversas telas de LED que mostravam imagens de vários estados americanos.
— Esse é o centro da barreira do oeste, mas também é um ponto de vigilância global — explicou o garoto. — Essas telas podem mostrar qualquer lugar do mundo, desde que o operador conheça o lugar é claro. Por isso temos tanta gente trabalhando aqui.
— Vocês têm câmeras espalhadas pelo mundo todo?! — pelo menos foi isso que eu entendi.
— Não precisamos de câmeras Oliver, as telas são mágicas. Basta o operador conhecer o lugar que quer ver e pronto, — disse ele sorrindo — venha, vou lhe mostrar.
Ele puxou uma das telas até nós e passou a mão sobre ela, à tela antes apagada acendeu em uma luz branca.
— Pense em algum lugar Oliver, um lugar familiar, que você conheça bem. Depois toque na tela.
Fechei os olhos e me concentrei com todas as forças na minha casa, no interior, em minha mãe e toquei levemente no monitor. Quando abri os olhos lá estava ela, sentada no sofá em nossa casa no Queens. Porém parecia preocupada, e segurava um porta-retratos com uma foto minha. ­Droga — senti um bocado de culpa, por ter a deixado assim, nem pude me despedir direito. Com certeza ela temia que eu tivesse o mesmo destino de meu pai, que morreu lutando contra monstros. O que me confortou foi ver e saber que ela estava bem e segura.
— Isso é incrível! — disse eu impressionado com o que a magia era capaz de fazer. — Maia, você não quer ver seus pais também?!
— Não, obrigado — respondeu ela friamente, saindo de perto e sentando-se sozinha em uma poltrona a alguns metros.
— O que deu nela? — perguntei sem entender nada.
Flynt me encarava com uma expressão indecifrável. — Sério, sobre o que vocês conversam? — perguntou ele.
Pensando bem, Maia nunca havia mencionado nada sobre seus pais ou parentes.
— Todos aqui conhecem a história da Maia. Ela perdeu toda a sua família quando era apenas um bebê. Toda e qualquer ligação de sangue com ela foi cortada. Ela foi criada por protetores da barreira do Sul. Muitas pessoas cuidaram dela, mas ela nunca teve pais de verdade, entende? — concluiu Flynt.
Sabendo disso percebi que havia tocado em um assunto delicado para ela. Eu sabia em partes o que ela estava sentindo. Eu nunca conheci o meu pai, mas em contrapartida minha mãe sempre esteve ao meu lado suprindo a falta que ele fazia. Maia não teve ninguém.
— Eu... não sabia — disse com o olhar baixo.
— Tudo bem Oliver, de um tempo a ela — disse Flynt colocando a mão em meu ombro. — Agora vamos falar sobre a sua missão.
Ele tocou na tela mais uma vez, e a imagem de minha mãe desapareceu, dando lugar a um vulcão extremamente agitado.
— Eu tenho monitorado esse vulcão desde o incidente com o dragão, — disse ele ampliando a imagem — veja aqui nessa área — completou Flynt apontando para certo ponto no monitor.
A imagem mostrava a entrada de uma caverna na base do vulcão. O portal tinha a forma de uma caveira gigante e dois gnolls montavam guarda em frente à passagem. Um deles possuía uma enorme cicatriz no rosto, deixada pelo fio da minha espada alguns dias atrás. O outro estava desarmado, porém manipulava uma luz verde com as mãos, era o mago hiena.
— Esse é o covil do dragão? — perguntei.
— Exatamente — respondeu ele expandindo a imagem novamente.
— Mas... onde está o dragão? — na verdade eu temia que seu rosto horrendo aparecesse subitamente na tela e me assustasse como fez no meu sonho.
— Ele está no interior do vulcão, — disse Flynt — ele ainda não reuniu o poder necessário para sair.
— Isso é bom, pelo menos ganhamos tempo para agir — ponderei.
Ele me olhou com uma mistura de frustração e preocupação. — Bem Oliver, na verdade vocês têm apenas dois dias.
— O que? Como assim? O que você quer dizer? — parecia que meu coração sairia pela boca e voltaria correndo para Nova York.
— O dragão atingira o máximo de seu poder quando o vulcão entrar em erupção, e isso acontecerá exatamente daqui a dois dias — explicou ele, mostrando um relógio em contagem regressiva em outro monitor. Marcava quarenta e oito horas e trinta e sete minutos, e diminuindo.
Agora além do perigo iminente que seria enfrentar um dragão maligno, estávamos correndo contra o tempo — pensei. Será que poderia ficar melhor?
Quando Flynt começou a falar sobre a missão, Maia levantou-se e aproximou-se. Permaneceu ao meu lado, em silêncio, prestando atenção em cada palavra da conversa.
— Âah... muito bem, então onde encontramos a Chama Sagrada? — perguntei sem rodeios.
Ele concordou com um aceno de cabeça dirigindo-se até uma escrivaninha desarrumada, abriu uma gaveta e de dentro retirou um pequeno aparelho. — Pegue. Isso aqui funciona como um GPS — disse ele.
Na hora eu imaginei aquela voz feminina dizendo: A cem metros vire a direita no covil sombrio do dragão, em seguida faça a rotatória para a morte certa e chegue no seu destino.
— É um dispositivo mágico que só pode ser usado por caçadores de dragões, no caso, vocês dois, — explicou Flynt — eu mesmo o criei para localizar a chama.
A princípio parecia um GPS comum, mas quando o toquei uma luz branca iluminou a tela e uma seta mágica apareceu sobre ela apontando para o norte. Parecia uma bússola high-tech. Toquei novamente na tela e ela se apagou, voltando a ser um eletrônico normal.
— Incrível — falei.
— Obrigado — disse Flynt com um pequeno sorriso no rosto. — Espero que seja útil para vocês, é a única forma que posso ajudar.
— Com certeza será — respondi rapidamente.
— Então... — ele parecia meio tenso. — Tenham cuidado com a Salamandra e que os deuses estejam com vocês.
A única esperança para vencer o dragão Rendar seria a Chama Sagrada, e tínhamos apenas dois dias para encontrá-la e aprender como usá-la a nosso favor. Talvez as chances estivessem contra nós, mas erámos os únicos que poderiam fazer isso. Com esse pensamento em mente, partimos floresta adentro, seguindo um GPS mágico rumo ao desconhecido.


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