Capítulo nove - Uma gangue de hienas tentou nos roubar




Aquela risada eufórica e aterrorizante fez com que minhas pernas ficassem paralisadas por alguns instantes. Pois se não fosse isso, certamente teria saído correndo sem olhar para trás. Os três cabeças de hiena que estavam mais a frente perceberam nossa presença, largaram seus copos e se aproximaram gargalhando da mesma forma que a criatura que estava atrás de nós.
Não faz uma hora que colocamos os pés no Hawaii, e já estávamos cercados por monstros, e alguma coisa me dizia que eles não estavam aqui formando um comitê de boas vindas.
— Parece que vocês precisam cruzar nossa floresta, — diz o gnoll encapuzado segurando uma lança atrás de nós. Com ele estavam mais três monstros. Um deles segurava uma espada enorme, praticamente do meu tamanho. Outro girava um nunchaku em torno de seu corpo, parecendo o Bruce Lee com cara de hiena. O que estava mais distante batia com um chicote no chão, açoitando a grama ao seu redor.
Ãah... Isso é serio? Uma gangue de hienas? — Perguntei incrédulo.
O gnoll baixou o capuz que cobria seu rosto, mostrando seus dentes afiados — Existem apenas duas maneiras de passar por este caminho. Deixando todos os seus pertences como pagamento, ou meu preferido... Mortos... E é claro, nessa última opção também ficaremos com seus bens. — Explicou o monstro que parecia ser o líder da gangue ou da alcateia, não sei onde os gnolls se encaixam.
De todas as criaturas que enfrentamos até agora, nenhuma delas tentou nos roubar, na maioria das vezes queriam apenas nos matar. Isso me deixou completamente furioso.
— Em primeiro lugar, — comecei — quem disse que a floresta é de vocês? — Perguntei irritado. — O guia turístico não fala nada sobre pedágio dentro da floresta.
— Oliver... — Chamava Maia ao meu lado.
— E em segundo lugar, — continuei — a única coisa que vou deixar para vocês é minha espada atravessada nessas suas caras feias de hiena.
Os gnolls pareciam confusos, com certeza não estavam acostumados a serem confrontados por adolescentes perdidos.
Maia suspirou — ai, ai... Lá vamos nós de novo... — Antes mesmo dela concluir a frase, ergui uma das mãos aos céus. Com um estrondo ensurdecedor um raio atingiu o chão a minha frente, fazendo com que a Espada do Oeste aparecesse em minha mão. Quando a poeira baixou, Maia também estava segurando seu Arco do Sul armado e pronto para disparar.
O barulho do raio fez os monstros recuarem, e um deles tropeçou nas próprias pernas caindo de costas no chão. — Eles são caçadores de dragões! — Berrou um dos gnolls engolindo aquela risada insuportável de antes.
Senti-me confiante, parece que eles nos conheciam e nos temiam. — Isso mesmo! — Exclamei. — Somos os grandes caçadores de dragões e é melhor vocês virarem as costas e irem embora, a não ser que queiram virar fumaça antes do tempo.
Era nesse momento que eu esperava que eles fossem sair correndo apavorados. Mas não foi assim que aconteceu.
Hahahahahahahá — gargalhou euforicamente o gnoll com a espada gigantepelo contrário pequenos caçadores. Estávamos esperando por vocês. Nosso mestre Rendar certamente ficará muito satisfeito ao ver que capturamos aqueles que o ameaçam. Ele nos cobrirá com ouro e prata.
Eles eram servos do dragão que estávamos caçando. Perfeito. Caminhamos direto para a boca do lobo, nesse caso, da hiena. Precisávamos de alguma distração, eles eram muitos.
Rendar? Esse é o nome do dragão do fogo? — Perguntei fazendo uma careta. Olhei para Maia, ela continuava seria e com seu arco preparado. — Que nome mais brega, eu esperava alguma coisa mais chocante como bola de fogo avassaladora ou talvez, o dragão mais quente que o fogo...
Como você ousa fazer piadas do grande deus dragão do fogo?! — Gritou um dos monstros exasperado.
— Calma aí risadinha. Só achei engraçado o nome, Rendar... Quando eu for lutar com ele vou dizer assim: É melhor você se Rendar... — Comecei a rir, o que deixou os gnolls furiosos. — Okay, essa foi péssima. Onde estávamos?  Ah sim, você escolheram virar fumaça mais cedo. — conclui levantando minha espada e me posicionando para o combate. Maia estava apenas esperando o meu sinal. Seus dedos suavam segurando a flecha no arco e apontava para o monstro mais afastado.
— Você é muito insolente garoto, — disse o gnoll que segurava um enorme machado — prepare-se para morrer! — Concluiu o monstro antes de levantar sua arma no alto e descer com toda sua cólera sobre mim.
Na mesma hora levantei o braço, e meu anel especial se transformou em um escudo redondo de carbino. Com certeza era um material muito resistente. Reduziu consideravelmente o impacto do machado, e ainda assim não sofreu nem um arranhão. O gnoll pelo contrário parecia ter recebido toda a força do golpe, pois cambaleou para trás quase caindo sobre seus companheiros. Levantei minha espada no alto e gritei, — agora!
Antes mesmo de eu dar um passo em direção ao monstro que havia me atacado, Maia disparou uma de suas flechas acertando o pescoço do gnoll que estava mais distante, o monstro largou o chicote que segurava e explodiu em uma grande nuvem de fumaça.
Enquanto a fumaça deixada pelo cara de hiena baixava, eu corria em direção do outro monstro. Girei minha espada eu sua direção, mas ele usou o machado para se defender. Empurrou-me para trás fazendo com que eu perdesse o equilíbrio e então avançou contra mim. Desviei do machado no último momento, ele passou sobre minha cabeça aparando alguns fios do meu cabelo. O Bruce Hiena tentou me acertar com o nunchaku, felizmente consegui desviar de seus golpes, na maioria das vezes usando o escudo para me proteger.
Enquanto isso Maia disparava incontáveis flechas mágicas contra os dois gnolls que a enfrentavam, porém os monstros desviavam da maioria das flechas, pelo menos das que poderiam mata-los. Um deles também possuía um arco, e respondia as flechadas de Maia da mesma forma. Enquanto ele disparava sem parar com seu arco, o outro monstro o protegia com seu enorme porrete repleto de pregos na ponta. Maia escapava de todas as flechas que seu inimigo lhe disparava, e com extrema precisão disparava as suas. O mais incrível sobre o Arco do Sul, é que não importa quantas flechas Maia dispare, elas simplesmente nunca acabam.
Eu estava cercado por três gnolls. Avancei contra o da espada gigante e desferi um golpe de baixo para cima, fazendo minha espada subir do chão até a cabeça do monstro. Ele escapou por pouco, se jogou para trás e rolou de costas no chão. No mesmo momento em que se levantou ele correu em minha direção com a espada erguida. — Morra filho de Belenus! — Bradou o gnoll correndo em minha direção.
Também avancei contra o monstro e o choque foi inevitável. O tilintar das espadas foi alto, nossos movimentos eram parecidos. Seus ataques eram facilmente defendidos por meu escudo, enquanto os meus eram evitados vezes por sua enorme espada, e vezes por seus companheiros que lhe davam apoio. Precisei triplicar a minha atenção, pois precisava desviar de espada, machado e nunchaku.
Maia havia sacado sua adaga e corria em volta dos gnolls, felizmente ambos pareciam estar bêbados e se moviam com certa dificuldade. — Fique parada garota! — gritou um dos monstros — eu estou ficando enjoado! — Disse ele levando às mãos a boca.
Ughhhr — vomitou o gnoll arqueiro.
— Que nojo! — Exclamou Maia saltando sobre o vomito, e enterrando sua adaga no peito do monstro. Com um grito seco, ele se desfez em fumaça assim como o outro.
Maia olhou para o outro gnoll com um olhar ameaçador, ela nem precisava dizer para se saber o que ela pensava ao encarar o monstro — você é o próximo.
O monstro balançou sua tora com pregos e se aproximou de Maia. Ambos ficaram andando em círculos, esperando uma oportunidade de atacar e finalizar o inimigo.
Após usar meu escudo de carbino para me defender de um ataque triplo que poderia ter me dividido em três, elevei minha espada contra a Hiena Lee, fazendo um corte sobre seu pescoço, o monstro recuou com um gemido alto largando o nunchaku e se transformando aos poucos em fumaça. Aproveitando a fumaça investi conta o monstro do machado que por apenas alguns segundos conseguiu desviar do golpe mortal, porém fiz um grande corte em seu rosto, deixando a sua cara de hiena ainda mais feia. O gnoll recuou expelindo um pequeno gemido, como um cachorro assustado. O que segurava a grande espada investiu varias vezes sobre mim, porém o tamanho e peso de sua arma o deixava lento. Após me abaixar para escapar de um corte horizontal que o monstro desferiu contra mim, levantei e enfiei minha espada em sua barriga o fazendo urrar de dor e explodir, deixando em seu lugar apenas àquela fumaça negra e fedorenta de sempre.
Maia e o gnoll com o bastão de pregos se enfrentavam de igual, digo iguais no sentido da batalha, e não de aparência. Maia é uma linda garota, e quando está em combate fica ainda mais atraente. O monstro girou sua tora e acertou uma árvore, fazendo com que os pregos ficassem presos em seu grosso tronco. A única opção do monstro foi largar a arma para desviar do corte que Maia lhe faria no pescoço, mas quando ele recuou alguns passos, ela puxou seu arco e disparou uma flecha no meio da cabeça do gnoll, o fazendo desabar ao chão e se dissolver como os outros.
O monstro que feri com minha espada correu para detrás de seu mestre, o gnoll encapuzado. Ao seu lado estava outro cara de hiena segurando uma lança e manipulando algum tipo de luz verde sobre os dedos. Maia estava ao meu lado, e juntos encaramos as três criaturas que sobraram. O gnoll que segurava entre os dedos a luz verde deu passo à frente, porém seu líder o impediu colocando a lança que segurava em seu caminho. — Dessa vez vocês venceram caçadores, — disse a hiena encapuzada impedindo que o outro entre na luta — mas nos veremos de novo, e da próxima vez as coisas não acabarão tão bem para vocês. — Concluiu o monstro antes de bater com sua lança no chão e causar um grande redemoinho. Quando o vento cessou os gnolls haviam desaparecido.
Maia me encarou ofegante e baixou as armas, — bem vindo ao Hawaii! — exclamou ela sorrindo.
Estávamos exaustos. Fizemos uma longa viagem de avião até aqui, e ao chegarmos fomos recepcionados por um bando de hienas que queriam nos raptar e nos roubar. Com certeza isso cansa qualquer um.
Montamos um acampamento improvisado, e sentamos em frente a nossa nova barraca especial anti monstros.
— É sempre animado assim por aqui? — Perguntei fazendo uma careta.
— Vinte e quatro horas por dia. — Respondeu Maia.
— Ótimo! Estamos no centro da festa. É aqui que as coisas acontecem... — Disse eu gesticulando com as mãos. — Mas antes de você me convidar para dançar, acho que deveríamos comer alguma coisa, toda essa confusão me deixou com fome.
— É claro que sim senhor teimoso. Vamos almoçar e depois prosseguimos. — Concluiu ela com um olhar determinado. — E sobre a dança, você que deveria me convidar...
— É claro que sim engraçadinha, pode deixar comigo. — Disse fazendo uma reverência e lhe estendendo a mão.
Maia corou, porém aceitou o convite. Pegou em minha mão e levantou-se. Dançamos por alguns minutos sem musica alguma. Depois de algumas pisadas nos pés e muitas risadas sentamos novamente, alegres e distraídos. Por um breve momento deixamos de pensar que o mundo estava prestes a acabar e estávamos nos divertindo como dois jovens normais.
— Bem... — Disse Maia, — acho que devemos almoçar agora...
Foi então que percebi que ainda segurava sua mão. Logo a soltei e senti meu rosto enrubescer. — Ãah... Você está certa! Vamos comer antes que outra hiena bêbada tente roubar nossa comida. — Disse eu sorrindo.


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