Capítulo dois - Eu não sabia que goblins andavam em bando



Expulso?! Como isso foi acontecer Oliver?! ― indagava minha mãe.
― Eu já disse: um duende entrou na sala e colocou o rato na bolsa da professora. Foi o duende e não eu. ― concluí, tentando manter a seriedade.
Minha mãe é uma pessoa calma e tranquila, se não fosse por isso talvez tivesse pulado em meu pescoço por causa dessa história maluca que eu estava contando. Mas era a mais pura verdade.
Seu nome é Cristine Turner. Tem os cabelos escuros, iguais aos meus. Olhos cor de caramelo além de uma aparência jovial para uma mulher de quarenta e dois anos. Ela trabalha em um restaurante na Austin Street e passa pouco tempo em casa.
Casou-se apenas uma vez ― com meu pai ―, depois que ele morreu não conseguiu manter um relacionamento por mais de um mês. Eu gostaria que minha mãe encontrasse alguém legal, mas nos últimos anos suas escolhas foram terríveis. Um deles era extremamente tagarela. Você deve estar se perguntando: mas isso é um problema? Torna-se um problema quando a pessoa fala cuspindo para todos os lados ― eu o chamava de Jeff Chuvoso.
Moramos no Queens, na Forest Hills. Como disse antes, em uma casinha pequena, porém confortável e acolhedora.
Minha mãe continuava me olhando com aquela expressão de incredulidade.
― Você está se ouvindo, Oliver Turner?! Duendes?! ― perguntou ela com as mãos na cintura.
Respirei fundo, não acreditaram em mim na escola, por que ela acreditaria? Nem eu mesmo levaria essa história a sério. Provavelmente estava ficando maluco.
― Desculpe, mamãe ― falei baixando a cabeça.
Ela era extremamente calma; ao invés de me dar uma bronca ou me castigar pelo ocorrido, segurou minhas mãos e olhou dentro dos meus olhos.
― Ah querido, vai dar tudo certo, encontraremos outra escola para você ― disse uma Cristine Turner sorridente com sua voz acolhedora que transmitia paz.
― Obrigado mãe. ― agradeci.
― Só esqueça essa história de goblins... ― ela engasgou enquanto falava.
― De que?! ― indaguei. ― Mas eu não falei nada sobre goblins.
Ela ficou vermelha e, com os olhos arregalados, mudou rapidamente de assunto.
― Eu já disse, querido, isso é loucura. Não pense nessas coisas. Er… Ahn… Agora eu preciso que você vá até a feira e busque algumas verduras para mim. Ou você quer ficar sem janta hoje? ― declarou ela praticamente me colocando para fora de casa.
― Mas...
TUM!
A porta se fechou às minhas costas. Isso foi estranho.
***
A feira de Austin Street era a umas oito quadras da minha casa. Durante o caminho, aquela frase martelava em minha cabeça ― esqueça essa história de goblins ―, minha mãe estava agindo de forma estranha e parecia estar escondendo algo de mim. Mas não sei o que, e por quê.
A feira é um lugar... como posso descrever? É uma mistura de mercado ao ar livre com apocalipse zumbi. As barracas ficam organizadas nas suas calçadas da rua, formando um corredor de frutas e verduras que está sempre repleto de gente correndo de lado para o outro ― o alvoroço é tanto que realmente parece o fim do mundo. Os feirantes estão sempre gritando e brigando pela atenção das pessoas. Na maioria das vezes é um caos, e o cheiro de frutas podres é insuportável.
Enquanto passava por entre os comerciantes, ouvi o som de um rádio que dava as notícias do mundo todo, e uma delas me chamou a atenção:
Plantão urgente! O vulcão Kilauea, no Hawaii, está agindo de forma estranha nos últimos dias, causando tremores nos arredores da ilha. No momento, alguns vulcanólogos estão trabalhando no caso, mas ainda não conseguem explicar a causa desse fenômeno. Eles afirmam, também, que não é possível prever quando haverá uma erupção.
Por mais que a notícia fosse aterradora, não pude deixar de lembrar das viagens de verão que mamãe e eu fazíamos antigamente. Todos os anos, em suas férias, ela me levava até San Diego, na Califórnia, onde passávamos ótimos momentos na nossa casa de praia ― que depois de alguns anos precisou ser vendida para pagar as despesas.
Deixando de lado meus devaneios, continuei a caminhar entre as diversas barracas do lugar. Enquanto dois feirantes discutiam sobre quem viu o cliente primeiro, algo chamou minha atenção, na verdade alguém chamou minha atenção.
Um homem ― pelo menos parecia um. Sua barraca estava a alguns metros, afastada das outras. Ele parecia ser um pouco maior do que o normal. Tinha os olhos saltados e vermelhos e um nariz muito grande. A cabeça era desprovida de cabelos, mas em compensação, o resto do corpo parecia ser de um urso. No lugar de seus dentes, exibia presas afiadas, que o deixava com o rosto semelhante ao de um javali. E usava um avental escrito: Fruit Ninja.
Mas o que mais me impressionava era que ele levantava quatro caixas ao mesmo tempo, cada uma delas rotuladas com um adesivo de cem quilos ― estava carregando quatrocentos quilos como se fossem quatrocentas gramas.
O mais incrível era que ninguém, além de mim, parecia notar a aparência monstruosa daquele sujeito e a sua força sobrenatural.
Aproximei-me do super-homem com cara de javali, me esgueirando atrás de algumas caixas para não chamar sua atenção, quando...
Isso é um orc, e é melhor você ficar bem longe dele! ― disse uma voz feminina no meu ouvido, me dando o maior susto.
Aaaah! ― gritei e rapidamente levei às mãos a boca para abafar o som.
Olhei para trás, pronto para dar uma bronca, mas... ela era linda.
Tinha cabelos loiros presos em um rabo de cavalo e olhos azuis da cor do mar. Seu corpo lembrava o de uma amazona e seu olhar intimidava igual a uma. Usava uma blusa preta, calça jeans e um tênis Converse.
― Caramba, garota, o que foi isso?! ― falei com a mão no coração. ― Eu estava distraído e você surge do nada falando no meu ouvido, quase tive um infarto aqui, sabia?
Ela sorriu e falou:
― Desculpe, não foi minha intenção assustá-lo.
― Tudo bem, não foi nada. ― respondi olhando para o outro lado à procura do homem gigante que eu estava espionando, mas não o encontrei. ― Ele desapareceu.
― Talvez tenha se assustado com o seu grito ― disse a garota misteriosa, sorrindo.
Olhei para ela estreitando os olhos ― muito engraçadinha. Você costuma assustar as pessoas e depois debochar delas ou eu sou um caso especial?!
A menina loira não respondeu, apenas estendeu a mão para me cumprimentar e disse:
― Prazer em conhecê-lo, meu nome é Maia Miller. Vim de muito longe à sua procura, nosso mundo está correndo um grande perigo e preciso de sua ajuda para salvá-lo.
Bem, ela podia ser linda, mas certamente era desequilibrada.
Er... me desculpe, Maia, mas estou sem tempo para salvar o mundo hoje. Quem sabe outro dia... ― virei as costas e comecei a andar rapidamente deixando ela para trás.
Minha vida já é uma loucura, não preciso fazer amizade com uma garota pirada que quer salvar o mundo comigo ― pensei.
****
Poucos minutos depois, enquanto estava andando de volta para casa, vi uma pequena criatura passar correndo pelo meio da rua.
Quase um metro de altura, caminhava de forma estranha e era extremamente feio. Sim, era o mesmo monstrinho que entrou na minha sala e fez com que eu fosse expulso da escola.
Lembrei-me da palavra: goblin, como minha mãe supostamente o chamou. Eu precisava investigar e descobrir o que estava acontecendo.
Ele provavelmente estava à procura de outro idiota ― infelizmente o anterior fui eu ― para fazer uma de suas brincadeiras estúpidas. O maldito chutou algumas latas de lixo; botou fogo dentro da caixa de correio; tocou campainhas e correu. Tudo isso sem perceber que estava sendo seguido ― era um vândalo em miniatura. Depois de ativar o alarme de uma dezena de carros, a criaturinha caminhou até uma casa abandonada, onde finalmente o encurralei.
― Olha quem eu encontrei novamente. ― falei com escárnio. ― Agora você vai abrir a boca e responder todas as minhas perguntas! ― o ameacei, socando a palma da mão.
Ele me encarava da mesma forma que na sala de aula. Com uma expressão sarcástica no rosto e um sorriso atormentador nos lábios.
Ruuurh... Ha, ha, ha, ha! ― grunhiu o monstrinho e começou a rir descontroladamente.
― O que é tão engraçado?! ― perguntei sem entender.
Ruurh... Ruurh! ― continuou urrando o duende, mas dessa vez atirou um sapato velho em minha direção.
Aaai! Já chega! ― gritei antes de me jogar sobre ele e tentar agarrá-lo, mas o pequeno foi mais rápido de novo e facilmente desviou da minha investida.
O anão continuava rindo e apontando para mim como se eu fosse um grande idiota, o que me deixava ainda mais furioso. Que criatura irritante ― pensei.
Enquanto ele esperneava de tanto rir, eu encontrei uma oportunidade e o agarrei pelas orelhas.
― E agora, sua coisa feia, vai fazer o quê? ― disse eu, me sentindo vitorioso e o sacudindo de um lado para o outro.
Ele se retorcia e guinchava tentando escapar.
― Por que não está rindo agora, sua aberração?! ― perguntei confiante. Antes que eu pudesse decidir o que fazer com o pequeno goblin, me vi cercado por mais seis deles... porém, todos segurando porretes, facas e machados. Agora eram sete, e todos fortemente armados.
Ops... ― larguei a orelha do anão que eu segurava; ele caminhou desajeitado até os outros e resmungou algumas coisas, apontando para mim.
Ruuurh ― urrou um deles em desaprovação.
― Acho que houve um mal-entendido aqui, não é, gente?! ― tentei argumentar dando um passo para trás.
Ruuurh! Ruuurh! ― resmungou o duende que estava mais à frente do grupo.
Aah... Sabem quem vocês me lembram? Os sete anões ― falei, contando um por um. ― Como está a Branca de Neve?!
Ruuuuuuurrrrhh! ― urrou mais alto o mesmo goblin, balançando seu porrete de um jeito bem ameaçador.
― Calma aí, Zangado. Parece que vocês não gostam muito de conversar não é?!
Antes que ele respondesse com outro grunhido estranho, eu virei as costas e saí correndo.
Agora imaginem a cena: eu estava sendo perseguido pelos sete anões. Mas pelas armas em suas mãos, certamente não queriam me oferecer moradia ou comida de graça.
Poucos metros depois, um deles me alcançou e acertou com seu porrete nas minhas costas, fazendo com que eu perdesse o equilíbrio e desabasse no meio do asfalto.
Não tinha ninguém na rua, apenas eu e os sete anões assassinos.
Consegui me desvencilhar do primeiro goblin que me segurava e voltei a correr. Mas esses diabinhos eram rápidos e logo me alcançaram de novo. O Zangado me acertou com o porrete nas pernas, o que me fez cair novamente.
Mas dessa vez não consegui levantar a tempo. Saltou em minha direção um monstrinho com um machado enorme ― maior que ele por sinal. Mas antes que pudesse me cortar ao meio, uma flecha o atravessou, o transformando em uma nuvem de fumaça preta.
No mesmo instante outro goblin que se preparava para me empalar com sua faca, foi atravessado por uma flecha, virando fumaça igual seu companheiro. E assim aconteceu com outro e outro.
Sobraram apenas três, ― entre eles o maldito que aprontou comigo ― que se entreolharam, viraram as costas e foram embora.
Eu estava quase nocauteado e do chão pude ver a silhueta de alguém se aproximando.
Era Maia, a garota misteriosa. Ela segurava um arco e nas costas carregava uma aljava cheia de flechas.
― Será que poderia me ouvir agora, senhor teimoso?


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